Jan 6, 2014

A CAMINHO DA LUZ


Esta é uma das fotografias em exposição até dia 11 de janeiro na Mira Forum, novo pólo cultural de Campanhã dedicado à fotografia. Uma das cópias desta imagem foi comprada por alguém que, inspirado pela imagem, escreveu e me enviou este texto. Aqui fica registado o meu muito obrigada a João Rodrigues

Sobre a fotografia 

A única forma quadrada é a dos seus limites.
Dentro, a imagem é composta de órbitas espiraladas. O círculo final é branco. Lembra os videntes cegos (Tirésias é uma reminiscência clássica). As escadas – é de uma escadaria vertebral que se trata - são o caminho para a iris luminosa lá em cima.
Simbolicamente, o esforço da ascese (a subida das escadas) é reconhecido como caminho para o olho omnividente, para a consciência maior, iluminada, branca.
A luz acima simboliza a clarividência pelo esforço. O vértice inclinado dos degraus, como dentes de uma serra, sugerem os obstáculos, as dificuldades.
A imagem não se fecha na espiral maior que a abre – rompe a moldura.
O contorno do olho de Horus, o símbolo egípcio da coragem e do poder essenciais à subida da escadaria revolta. Ou o olho do Grande Arquiteto que servem os pedreiros livres. A concha sagrada budista, símbolo das oito regras. A espiral concêntrica, a «espiral da Vida» celta, que significava a fusão, no homem ou na mulher, da consciência exterior e do equilíbrio espiritual.
A imagem desdobra-se em tradições icónicas muito diversas.
A forma espiralada que se alarga ou aperta psicadélica na imagem (como uma serpente desperta) não possuindo ângulos, não obedece aos termos princípio e fim: fecha-se na infinitude.

É uma imagem onírica, de tipo hipnótico…uma imagem que contenta a mente analítica de freudianos e apreciadores de Hitchcock.
O olho é o símbolo maior da imagem. É ele que sobressalta as linhas de uma monótona escadaria. O olho é o sentido utilizado pela Pat para transfigurar reais. Há a captação de arquétipos universais, fotografia arcana, a partir de reais comuns e despercebidos. O processo parece intuitivo e em larga medida inconsciente o que  aproxima Pat das fotógrafas dionisíacas: as que intuem em instantâneas a verdade aportada à imagem. E do vulgar extraem o símbolo.