Esta é uma das fotografias em exposição até dia 11 de janeiro na Mira Forum, novo pólo cultural de Campanhã dedicado à fotografia. Uma das cópias desta imagem foi comprada por alguém que, inspirado pela imagem, escreveu e me enviou este texto. Aqui fica registado o meu muito obrigada a João Rodrigues.
Sobre a
fotografia
A única forma quadrada é a dos
seus limites.
Dentro, a imagem é composta de
órbitas espiraladas. O círculo final é branco. Lembra os videntes cegos
(Tirésias é uma reminiscência clássica). As escadas – é de uma escadaria
vertebral que se trata - são o caminho para a iris luminosa lá em cima.
Simbolicamente, o esforço da
ascese (a subida das escadas) é reconhecido como caminho para o olho
omnividente, para a consciência maior, iluminada, branca.
A luz acima simboliza a
clarividência pelo esforço. O vértice inclinado dos degraus, como dentes de uma
serra, sugerem os obstáculos, as dificuldades.
A imagem não se fecha na
espiral maior que a abre – rompe a moldura.
O contorno do olho de Horus, o
símbolo egípcio da coragem e do poder essenciais à subida da escadaria revolta.
Ou o olho do Grande Arquiteto que servem os pedreiros livres. A concha sagrada budista, símbolo das oito regras. A
espiral concêntrica, a «espiral da Vida» celta, que significava a fusão, no
homem ou na mulher, da consciência exterior e do equilíbrio espiritual.
A imagem desdobra-se em
tradições icónicas muito diversas.
A forma espiralada que se
alarga ou aperta psicadélica na imagem (como uma serpente desperta) não
possuindo ângulos, não obedece aos termos princípio e fim: fecha-se na
infinitude.
É uma imagem onírica, de tipo
hipnótico…uma imagem que contenta a mente analítica de freudianos e
apreciadores de Hitchcock.
O olho é o símbolo maior da
imagem. É ele que sobressalta as linhas de uma monótona escadaria. O olho é o
sentido utilizado pela Pat para transfigurar reais. Há a captação de arquétipos
universais, fotografia arcana, a partir de reais comuns e despercebidos. O
processo parece intuitivo e em larga medida inconsciente o que aproxima Pat das fotógrafas dionisíacas: as que intuem em instantâneas a verdade
aportada à imagem. E do vulgar extraem o símbolo.